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Pesquisa trata sobre o problema do suicídio de policiais militares do Rio de Janeiro

Uma pesquisa conduzida pelo GEPeSP (Grupo de Estudo e Pesquisa em Suicídio e Prevenção), da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), em parceria com a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ), resultou no mais completo diagnóstico sobre o problema do suicídio entre os policiais militares fluminenses.

Sob a coordenação da cientista política Dayse Miranda, o estudo contou com coautoria de cinco psicólogos da PMERJ e de pesquisadores da UERJ de diferentes áreas, e investigou os fatores que levam ao suicídio de policiais. Os resultados da pesquisa estão publicados no livro “Por que os policiais se matam?”, que propõe também um plano de prevenção do comportamento suicida – com ações que incluem desde palestras até treinamento para os profissionais de saúde da PMERJ.

Pesquisa da GEPeSP
De acordo com dados da PMERJ, de 1995 a 2009 foram notificados 58 casos de suicídio de policiais militares no Rio de Janeiro, mais 36 tentativas de suicídio. Destes 58 casos, três aconteceram em serviço e 55 nos dias de folga. Foram, em média, três suicídios a cada ano.

À pesquisa, os profissionais de saúde da PMERJ entrevistados sugerem que muitos dos casos de suicídios consumados e tentativas de suicídio não são informados ao setor responsáveis por diversos motivos, como questões socioculturais (o tabu em torno do suicídio); proteção ao familiar da vítima (a preservação do direito ao seguro de vida), e a existência de preconceito ao policial militar diagnosticados com problemas emocionais e psiquiátricos, conforme destaca o livro.

A pesquisa estimou o risco relativo das mortes por suicídio de policiais militares comparando com o da população em geral do Rio de Janeiro entre 2000 e 2005. A conclusão foi a de que o risco relativo de morte de policiais militares por suicídio foi quase 4 vezes superior ao da população em geral.

Os pesquisadores da UERJ e os psicólogos da PMERJ entrevistaram 224 policiais voluntários e investigaram mais 26 casos de suicídio de policiais militares de 2005 a 2009, traçando um perfil dos suicidas. A conclusão é de que o praça (sargento, cabo ou soldado) do sexo masculino, de 31 a 40 anos, e a principal vítima de suicídio.

Segundo o Grupo de Atendimento aos Familiares de Policiais Militares Falecidos, dos 26 policiais que se suicidaram, apenas dois eram mulheres e 55% tinham entre 31 e 40 anos. Mais: 14 eram casados ou viviam uma união consensual; 14 tinham pelo menos um filho; 9 foram definidos pelos parentes como brancos e 17 como pardos. Dos 26, 10 eram evangélicos; 23 eram praças (sargentos, cabos e soldados), 2 eram coronéis e 1 era subtenente. Sobre a situação funcional dos policiais, 19 eram da ativa e 7 eram inativos. Ainda: 13 trabalhavam em unidades operacionais e 3 atuavam em unidades administrativas.

A partir das entrevistas dos 224 policiais voluntários e dos diagnósticos com as famílias dos 26 policiais que se mataram, a pesquisa da GEPeSP conseguiu elencar fatores para o sofrimento psíquico, que contribuiu com as tentativas de suicídio e o com o suicídio em si. Entre os fatores, estão: rotina de agressões verbais e físicas (perseguições/amedrontamento, abuso de autoridade, xingamentos, insultos, humilhações); insatisfação com a PMERJ, no que concerne a escala de trabalho, infraestrutura, treinamento, falta de reconhecimento profissional, falta de oportunidades de ascensão na carreira e desvalorização pela sociedade; indicadores de depressão variados e problemas de saúde física.

Plano de prevenção do comportamento suicida
No livro “Por que os policiais se matam?”, são propostos dois tipos de intervenção para redução do risco de suicídio entre policiais. Primeiro, com palestras, gestão de pessoal, gestão logística, formação e treinamento. E segundo, um plano mais específico, voltado ao atendimento do policial em situação de risco.

Entre as estratégias específicas, o livro propõe a criança de um protocolo sobre como lidar com um potencial suicida, considerando os níveis de risco. Outro ponto destacado é sobre o uso de arma de fogo. Em casos extremos, em que o policial apresentar alto risco de cometer suicídio, pode-se providenciar o recolhimento de sua arma.